Angioplastia guiada por FFR: estudo FAME 2
Intervenção coronária percutânea guiada por FFR versus tratamento clínico otimizado em pacientes com doença coronária estável: análise do estudo FAME 2.
Dentre pacientes com síndrome coronariana aguda, a intervenção coronária percutânea (ICP) aumenta a taxa de sobrevida e reduz a incidência de recorrência de infarto do miocárdio. No entanto, em pacientes com doença arterial coronária (DAC) estável, persiste a controvérsia sobre o papel e o momento ideal da ICP para melhorar desfechos e reduzir os sintomas anginosos. Recentemente acompanhamos a grande repercussão da publicação do estudo Orbita que avaliou pacientes sintomáticos com DAC estável randomizados para tratamento com angioplastia versus tratamento clínico otimizado. O resultado foi semelhante entre os grupos pondo mais dúvidas sobre a indicação da ICP em pacientes estáveis.
Nos últimos dias, com a apresentação no EuroPCR 2018 dos dados de 5 anos de seguimento do estudo FAME 2, e concomitante publicação do estudo no NEJM, essa discussão ganha novos elementos. O estudo FAME 2 incluiu pacientes com DAC estável, sintomáticos, porém com pelo menos uma lesão com avaliação funcional por reserva de fluxo fracionado (FFR) positiva (isquêmica, FFR < 0,80). Assim, os pacientes sintomáticos, com lesão angiograficamente significativa e com isquemia documentada por FFR, foram randomizados para tratamento clínico otimizado ou ICP. A hipótese era que a angioplastia guiada por FFR fosse superior ao tratamento conservador como abordagem inicial do paciente estável.
Um total de 888 pacientes foram incluídos (447 no grupo ICP e 441 grupo tratamento clínico). Ao final de 5 anos, a taxa do desfecho primário composto por morte, infarto ou revascularização urgente foi menor no grupo ICP (13,9% vs 27,0%; HR: 0,46; IC 95%: 0,34 a 0,63; p<0,001). A diferença foi guiada pela diferença na taxa de revascularização urgente que ocorreu em 6,3% dos pacientes no grupo ICP comparado a 21,1% no tratamento clínico (HR: 0,27; IC 95%: 0,18 a 0,41). Não houve diferença estatística entre os grupos quanto à incidência de morte (5,1% vs 5,2%; HR: 0,98; IC 95%: 0,55 a 1,75) e infarto (8,1% vs 12,0%; HR: 0,66; IC 95%: 0,43 a 1,00). A melhora dos sintomas anginosos se manteve melhor no grupo ICP até 3 anos de seguimento. Ao final de 5 anos, a diferença estatística entre os grupos não se manteve.
Dessa forma, em pacientes com doença coronária estável, uma estratégia com angioplastia guiada por FFR foi associada com significante redução do desfecho composto por morte, infarto ou revascularização urgente em 5 anos, quando comparada ao tratamento clínico isolado. Os resultados do FAME 2, não mudam o conceito atual de que são necessários critérios mais rígidos para se indicar uma intervenção para o tratamento da DAC estável. No entanto, o estudo reforça a hipótese de que os pacientes estáveis, sintomáticos e com isquemia documentada por FFR evoluem melhor ao serem revascularizados.
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